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Pesquisadores espanhóis sugerem não usar mais gelo em lesões; entenda

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Microgen/Envato
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Em caso de pancada forte, quadro de tendinite ou qualquer outra lesão aguda, é normal escutar a indicação de colocar gelo na região lesionada. Apesar da popularidade do conselho, há quem defenda que esta não é a melhor alternativa, já que atrapalha a cicatrização e a cura. O melhor é não intervir, como apontam membros da Universidade San Jorge, na Espanha. 

De fato, uma bolsa de gelo pode até aliviar temporariamente a dor e reduzir o inchaço. A questão é que o preço cobrado será alto, já que atrasa a recuperação total, como explicam as pesquisadoras Beatriz Carpallo Porcar e Paula Cordova Alegre Corpo, da San Jorge.

“Para que todo o processo de cicatrização [do corpo após uma lesão] ocorra corretamente, a inflamação deve seguir seu curso fisiológico”, reforça a dupla, em artigo na plataforma The Conversation. Nesse ponto, o gelo é um inimigo, já que burla os processos naturais do organismo.

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Reação do corpo a uma lesão

Antes de seguir, vale detalhar o que acontece com o corpo após uma lesão. Com o impacto de uma batida, por exemplo, o organismo induz a um cenário de inflamação.

Mesmo que os vasos sanguíneos não tenham se rompido e a região não tenha ficado “roxa”, os vasos da área lesionada se contraem, impedindo a perda de sangue.

Após esse primeiro momento, a permeabilidade desses canais aumenta, permitindo a entrada de substâncias e células imunes com efeitos inflamatórios. 

Com esse aumento de volume de fluídos, a área normalmente vai inchar. O inchaço é conhecido como edema e, diferente do que as pessoas normalmente pensam, ele é parte do processo de cura (e não algo nocivo).

No auge do processo inflamatório, as substâncias presentes geram sinais bioquímicos e o tecido começa a cicatrizar. Em paralelo, surgem metabólitos conhecidos como lipoxinas, com alto poder anti-inflamatório. Os neutrófilos (células de defesa) também agem nesse momento de cura.

Evite usar o gelo

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Defendida inicialmente em 1978 pelo médico norte-americano Gabe Mirkin, a prática de usar gelo nas lesões busca reduzir a condução nervosa e promover a vasoconstrição local (estreitamento dos vasos sanguíneos). Isso alivia a dor no curto prazo, além de diminuir a inflamação e o edema. Entretanto, a técnica inibe os processos naturais do corpo em cuidar de si mesmo.

“A vasodilatação é necessária para que todas as substâncias essenciais para a cura cheguem no local da lesão. Presumivelmente, o gelo retardará este processo e modificará as vias ideais de cura”, pontuam as pesquisadoras da Espanha.

Ao modificar o curso da inflamação, o gelo dificulta a recuperação. Assim, o tecido pode não se regenerar adequadamente e ficar mais suscetível a novas lesões.

Inclusive, pesquisadores da Universidade de Ulster (Irlanda) publicaram uma revisão sistemática analisando outros 22 estudos sobre o uso do gelo em lesões. Publicada na revista The American Journal of Sports Medicine, a conclusão é que faltam evidências sobre os benefícios do gelo nessas situações. 

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Qual é a melhor opção?

Se o gelo não é a melhor opção para a dupla de especialistas, a orientação é seguir um protocolo conhecido como Peace and Love. O método para tratar lesões foi descrito por pesquisadores da Universidade Colúmbia Britânica (Canadá), na revista British Journal of Sports Medicine.

A seguir, confira como ele pode ser adotado, sendo dividido em Peace (início imediato) e Love (quando já existem sinais de melhora):

  • P: como forma de proteção, é preciso evitar atividades e movimentos que aumentem a dor nos primeiros dias;
  • E: quando possível, o membro lesionado deve ser elevado a uma altura maior que a do coração, ajudando na circulação dos fluídos;
  • A: evite usar remédios anti-inflamatórios e gelo;
  • C: uso estratégias de compressão, reduzindo o inchaço com faixas;
  • E: evite tratamentos desnecessários, permitindo que o corpo se regenere sozinho;
  • L: o retorno às atividades deve ter como parâmetro a melhora da dor e a capacidade de realização;
  • O: é preciso ser otimista e confiante no processo de recuperação;
  • V: realize atividades cardiovasculares, na medida do possível, para melhorar o fluxo sanguíneo;
  • E: movimente a área lesionada, conforme os sintomas diminuam de intensidade.
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No entanto, é preciso alertar que, em casos de lesões graves, a orientação é buscar aconselhamento de um profissional da saúde que definirá a melhor alternativa para a recuperação. 

Fonte: The Conversation, The American Journal of Sports Medicine, British Journal of Sports Medicine